Paraguai: Golpe de Estado “express”

No documento do Senado, que circula na internet, a sentença antecipada do julgamento do presidente Lugo

Quem mesmo está por trás do golpe de estado parlamentar que denunciou, julgou e condenou o presidente Lugo em pouco mais de 24h?

A página do G1 colocou uma curiosa matéria que trata da satisfação dos chamados “brasiguaios” com a destituição do presidente paraguaio:

“Brasiguaios” comemoram a mudança no governo do Paraguai

Agricultores acreditam que conflitos com campesinos serão amenizados.

Os “brasiguaios” – agricultores brasileiros que vivem no Paraguai, na fronteira com o Brasil – ficaram satisfeitos com a saída de Fernando Lugo e a posse do novo presidente, Federico Franco. Para eles, a mudança no governo do Paraguai será benéfica para os produtores e ajudará a diminuir o conflito entre camponeses e fazendeiros.

“Nós estamos muito felizes. Isso é um avanço para a nossa agricultura”, diz ao G1 o produtor brasileiro Afonso Almiro Schuster, que mora há 39 anos em Santa Rosa del Monday.

Para ler toda a matéria, eis o link: http://g1.globo.com/parana/noticia/2012/06/brasiguaios-comemoram-mudanca-no-governo-do-paraguai.html

Apoiadores do presidente do Paraguai Fernando Lugo acompanharam a sessão do Senado, na praça em frente ao Congresso. Foto: Jorge Adorno/Reuters

Para entender melhor o papel dos estrangeiros, especialmente brasileiros, que compraram terras consideradas públicas no Paraguai, este vídeo da TV Pública do Paraguai (ainda no ar) merece ser visto:

Transnacionais também tinham interesses

Segundo a Carta Maior, o que ocorreu não foi um ato tresloucado do Congresso paraguaio, tudo indica que existem outros interesses por trás do golpe de estado parlamentar.

Trechos da matéria:

Os mortos de Curuguaty e o julgamento político de Lugo

Foram muitos os sinais que antecederam o golpe contra o presidente Fernando Lugo: a maneira como ocorreu o conflito em Curuguaty que deixou 17 mortos, a presença de franco-atiradores entre os camponeses, a campanha via jornal ABC Color contra os funcionários do governo que se opunham à liberação das sementes de algodão transgênico da Monsanto, a convocação de um tratoraço nacional com bloqueio de estradas para o dia 25. O jornalista paraguaio Idilio Méndez Grimaldi conta essa história e adverte: “os mortos de Curugaty carregam uma mensagem para a região, especialmente para o Brasil”.

Idilio Méndez Grimaldi

(O artigo de Idilio Méndez Grimaldi foi escrito dias antes da aprovação, no Senado paraguaio, da abertura do processo de impeachment de Fernando Lugo.)

Quem está por trás desta trama tão sinistra? Os impulsionadores de uma ideologia que promove o lucro máximo a qualquer preço e quanto mais, melhor, agora e no futuro. No dia 15 de junho de 2012, um grupo de policiais que ia cumprir uma ordem de despejo no departamento de Canindeyú, na fronteira com o Brasil, foi emboscado por franco-atiradores, misturados com camponeses que pediam terras para sobreviver. A ordem de despejo foi dada por um juiz e uma promotora para proteger um latifundiário. Resultado da ação: 17 mortos, 6 policiais e 11 camponeses, além de dezenas de feridos graves. As consequências: o governo frouxo e tímido de Fernando Lugo caiu com debilidade ascendente e extrema, cada vez mais à direita, a ponto de ser levado a julgamento político por um Congresso dominado pela direita.

Trata-se de um duro revés para a esquerda e para as organizações sociais e campesinas, acusadas pela oligarquia latifundiária de instigar os camponeses. Representa ainda um avanço do agronegócio extrativista nas mãos de multinacionais como a Monsanto, mediante a perseguição dos camponeses e a tomada de suas terras. Finalmente, implica a instalação de um cômodo palco para as oligarquias e os partidos de direita para seu retorno triunfal nas eleições de 2013 ao poder Executivo.

No dia 21 de outubro de 2011, o Ministério da Agricultura e Pecuária, dirigido pelo liberal Enzo Cardozo, liberou ilegalmente a semente de algodão transgênico Bollgard BT, da companhia norteamericana de biotecnologia Monsanto, para seu plantio comercial no Paraguai. Os protestos de organizações camponesas e ambientalistas foram imediatos. O gene deste algodão está misturado com o gene do Bacillus thurigensis, uma bactéria tóxica que mata algumas pragas do algodão, como as larvas do bicudo, um coleóptero que deposita seus ovos no botão da flor do algodão.

O Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Vegetal e de Sementes (Senave), instituição do Estado paraguaio dirigida por Miguel Lovera, não inscreveu essa semente nos registros de cultivares pela falta de parecer do Ministério da Saúde e da Secretaria do Ambiente, como exige a legislação.

Campanha midiática

Nos meses posteriores, a Monsanto, por meio da União de Grêmios de Produção (UGP), estreitamente ligada ao grupo Zuccolillo, que publica o jornal ABC Color, lançou uma campanha contra o Senave e seu presidente por não liberar o uso comercial em todo o país da semente de algodão transgênico da Monsanto. A contagem regressiva decisiva parece ter iniciado com uma nova denúncia por parte de uma pseudosindicalista do Senave, chamada Silvia Martínez, que, no dia 7 de junho, acusou Lovera de corrupção e nepotismo na instituição que dirige, nas páginas do ABC Color. Martínez é esposa de Roberto Cáceres, representante técnico de várias empresas agrícolas, entre elas a Agrosan, recentemente adquirida por 120 milhões de dólares pela Syngenta, outra transnacional, todas sócias da UGP.

No dia seguinte, 8 de junho, a UGP publicou no ABC uma nota em seis colunas: “Os 12 argumentos para destituir Lovera”. Estes supostos argumentos foram apresentados ao vice-presidente da República, correligionário do ministro da Agricultura, o liberal Federico Franco, que naquele momento era o presidente interino do Paraguai, em função de uma viagem de Lugo pela Ásia.

No dia 15, por ocasião de uma exposição anual organizada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, o ministro Enzo Cardoso deixou escapar um comentário diante da imprensa que um suposto grupo de investidores da Índia, do setor de agroquímicos, cancelou um projeto de investimento no Paraguai por causa da suposta corrupção no Senave. Ele nunca esclareceu que grupo era esse. Aproximadamente na mesma hora daquele dia, ocorriam os trágicos eventos de Curuguaty.

No marco desta exposição preparada pelo citado Ministério, a Monsanto apresentou outra variedade de algodão, duplamente transgênica: BT e RR, ou Resistente ao Roundup, um herbicida fabricado e patenteado pela transnacional. A pretensão da Monsanto é a liberação desta semente transgênica no Paraguai, tal como ocorreu na Argentina e em outros países do mundo.

Antes desses fatos, o diário ABC Color denunciou sistematicamente, por supostos atos de corrupção, a ministra da Saúde, Esperanza Martínez, e o ministro do Ambiente, Oscar Rivas, dois funcionários do governo que não deram parecer favorável a Monsanto.

Em 2001, a Monsanto faturou 30 milhões de dólares, livre de impostos (porque não declara essa parte de sua renda), somente na cobrança de royalties pelo uso de sementes de soja transgênica no Paraguai. Toda a soja cultivada no país é transgênica, numa extensão de aproximadamente 3 milhões de hectares, com uma produção em torno de 7 milhões de toneladas em 2010.

Por outro lado, na Câmara de Deputados já se aprovou o projeto de Lei de Biossegurança, que cria um departamento de biossegurança dentro do Ministério da Agricultura, com amplos poderes para a aprovação para cultivo comercial de todas as sementes transgênicas, sejam de soja, de milho, de arroz, algodão e mesmo algumas hortaliças. O projeto prevê ainda a eliminação da Comissão de Biossegurança atual, que é um ente colegiado forma por funcionários técnicos do Estado paraguaio.

Enquanto transcorriam todos esses acontecimentos, a UGP preparava um ato de protesto nacional contra o governo de Fernando Lugo para o dia 25 de junho. Seria uma manifestação com máquinas agrícolas fechando estradas em distintos pontos do país. Uma das reivindicações do chamado “tratoraço” era a destituição de Miguel Lovera do Senave, assim como a liberalização de todas as sementes transgênicas para cultivo comercial.

Família concentrada na praça do Congresso esperando notícias do “julgamento político” do presidente paraguaio – Foto: Jorge Adorno (Reuters)

As transnacionais do agronegócio no Paraguai praticamente não pagam impostos, mediante a férrea proteção que tem no Congresso, dominado pela direita. A carga tributária no Paraguai é apenas de 13% sobre o PIB. Cerca de 60% do imposto arrecadado pelo Estado paraguaio é via Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Os latifundiários não pagam impostos. O imposto imobiliário representa apenas 0,04% da carga tributária, cerca de 5 milhões de dólares, segundo estudo do Banco Mundial, embora a renda do agronegócio seja de aproximadamente 30% do PIB, o que representa cerca de 6 bilhões de dólares anuais.

O Paraguai é um dos países mais desiguais do mundo. Cerca de 85% das terras, aproximadamente 30 milhões de hectares, estão nas mãos de 2% de proprietários, que se dedicam à produção meramente para exportação ou, no pior dos casos, à especulação sobre a terra. A maioria desses oligarcas possui mansões em Punta del Este ou em Miami e mantém estreitas relações com transnacionais do setor financeiro, que guardam seus bens mal havidos nos paraísos fiscais ou tem investimentos facilitados no exterior. Todos eles, de uma ou outra maneira, estão ligados ao agronegócio e dominam o espectro político nacional, com amplas influências nos três poderes do Estado. Ali reina a UGP, apoiada pelas transnacionais do setor financeiro e do agronegócio.

Leia toda a matéria na página da Carta Maior: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20446

“Os legisladores paraguaios estão legislando para os brasileiros”

 

 

Da BBC (em espanhol):

¿Quiénes son los “brasiguayos”?

Existe, sin embargo, una ley nacional sancionada en 2005 que prohíbe que los extranjeros de países limítrofes adquieran o usufructúen tierras a menos de 50 kilómetros de los límites internacionales, por considerar que ésta es una franja “de seguridad fronteriza”.

“En toda la región sojera esta norma no se cumple, como tampoco se cumplen las leyes ambientales. Las (normas) brasileñas son más estrictas y por eso a los productores les es más fácil venir a Paraguay, donde los controles son laxos”, señaló Ricca.

Lo cierto es que el mismo Favero fue acusado, y penalizado, por cometer “desmonte masivo”. Recientemente, un grupo de lugareños amenazó con invadir sus propiedades, en protesta por las fumigaciones constantes con agroquímicos que acompañan a la soja transgénica.

O “presente de grego”

Foto no "El País": La policía reprime con dureza una protesta ante el Parlamento griego en Atenas, en el segundo día de huelga general.- L. GOULIAMAKI (AFP)

O Parlamento grego aprovou nesta quarta-feira o pacote de medidas de austeridade propostas pelo governo, contrapartida exigida pelo FMI e pela União Europeia (UE) para liberar a última parcela de um empréstimo de 110 bilhões de euros ao país.

Ensangrentado (J.KOLESIDIS/REUTERS) | 29-06-2011- Un policía reduce a un manifestante en Atenas/El País -Espanha

Entre as medidas do plano de austeridade, estão cortes orçamentários, aumento de impostos e privatizações. Sindicatos se opõem às propostas do governo, principalmente à que prevê a cobrança de impostos de trabalhadores que ganham salário mínimo.

Os parlamentares aprovaram o pacote de corte de gastos, aumento de impostos e venda de ativos estatais por 155 votos a 138, numa vitória para o primeiro-ministro George Papandreou.

Fontes: BBC Brasil e Reuters Brasil

Presente de grego

A expressão, presente de grego, que significa oferta que traz prejuízo e/ou aborrecimento a quem o recebe, surgiu em decorrência da Guerra de Tróia.

A história relata o final de uma disputa de 10 anos (1250 a.C. – 1240 a.C.) entre a Grécia e Tróia cujo estopim foi o rapto de Helena, mulher do rei de Esparta Menelau, por Páris, filho do rei troiano Príamo e para resgatar Helena, o rei pede ajuda a seu irmão Agamenon, rei de Micenas e o mesmo, por sua vez, envia um enorme exército à Ásia Menor, onde montam um cerco ao redor das muralhas da cidade inimiga.

O conflito só termina graças a um plano de Ulisses, rei da ilha de Ítaca, que ordena que as tropas finjam deixar o local da batalha e deixem à porta dos muros fortificados um imenso cavalo de madeira. Os troianos acreditam se tratar de um presente e, felizes, o colocam para dentro. À noite, os soldados gregos que estavam escondidos no cavalo saem e abrem as portas da fortaleza para a invasão. Tróia é arrasada; seus líderes, mortos; e Helena, levada de volta a seu país.

Dividocracia

Excelente documentário sobre a crise grega, com legendas em português: