O maior inimigo do patrimônio histórico e das nossas belezas naturais é a especulação imobiliária.

Casas da Rua Luciana de Abreu  - 25 de setembro de 2013 - Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Casas da Rua Luciana de Abreu – 25 de setembro de 2013 – Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Juremir e os Casarões da Luciana de Abreu

Não é fácil defender o patrimônio arquitetônico de Porto Alegre. Sejamos francos: não temos a fartura de certas cidades coloniais ou de velhas capitais do mundo. Do pouco que temos, nem sempre cuidamos. O maior inimigo do patrimônio histórico e das nossas belezas naturais é a especulação imobiliária. Esse pessoal já tentou emplacar apartamentos fashion com janelas para o pôr do sol do Guaíba no Pontal do Estaleiro. Não passou. Na época, usaram todo tipo de sofisma para tentar levar no grito. Chegaram a dizer que não era o melhor negócio. Mesmo assim, queriam realizá-lo. A briga agora é para derrubar belos casarões da rua Luciana de Abreu, no Moinhos de Vento, a fim de colocar um edifício sem sal no lugar.

Manifestação em defesa da preservação das casas - 25 de etembro de 2013 - Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Manifestação pela preservação das casas – 25 de setembro de 2013 – Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

A Justiça concedeu liminar impedindo a demolição dos casarões da Luciana de Abreu. Bravo ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Ainda não vi um edifício construído pela arquitetura contemporânea em Porto Alegre pelo qual se possa brigar no futuro pela sua preservação. Deve ser uma maneira inteligente de evitar novos litígios. Quem faria uma manifestação para salvar uma dessas horrendas caixas de vidro, aço e concreto? A arquitetura parece ter rompido definitivamente com a ideia de perenidade. O útil sufocou para sempre o belo. A aristocracia do passado tinha noções de bom gosto que não foram transmitidas para a burguesia hipermoderna. Ainda estamos na fase de acumulação primitiva do capital. Nessa etapa, negócios são mais importantes do que belezas.

Ato pela preservação das casas da Luciana de Abreu - 29 de setembro de 2013 - Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Ato pela preservação das casas da Luciana de Abreu – 29 de setembro de 2013 – Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Patrimônio para a especulação imobiliária é dinheiro. Nada mais. Os modernos têm horror dessas “velharias” que atrapalham novos e polpudos ganhos. Se precisar, usam um argumento aparentemente irrefutável:

– Criamos empregos com nossos empreendimentos.

Crinaças prtotestam contra a derrubada das casas no Ato pela preservação das casas da Luciana de Abreu - 29 de setembro de 2013 - Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Crianças também protestam contra a derrubada das casas no Ato pela preservação das casas da Luciana de Abreu – 29 de setembro de 2013 – Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Fingem ignorar que empregos têm um custo e que não podem ser criados a qualquer custo. Há lugares que atraem a cobiça desses “empreendedores” determinados a atuar como novos bandeirantes ou velhos predadores. Há pouco, um jornalista quase em surto pediu a destruição do Mercado Público de Porto Alegre. A especulação imobiliária salivou de entusiasmo. Se passasse, o homem seria condecorado e ganharia estátua na entrada do novo shopping. Não colou. Andam colocando asfalto numa estradinha no Parque da Redenção. Os “progrechatos” vivem de olho nos espaços públicos, nas reservas ecológicas e nos prédios históricos. No Rio de Janeiro, sonham em tomar posse do Aterro do Flamengo. A mata atlântica e a floresta amazônica sofrem com o apetite insofreável dos “progressistas” em busca de bons negócios anacrônicos.

Ato pela preservação das casas da Luciana de Abreu - 29 de setembro de 2013 - Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Ato pela preservação das casas da Luciana de Abreu – 29 de setembro de 2013 – Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

O problema é que esses “empreendedores” ainda não compreenderam a mudança de sensibilidade que está alterando o imaginário de boa parte do mundo. Na mídia, eles têm os seus defensores. Curiosamente são os mesmos que vociferam contra o politicamente correto por achar um absurdo não se poder mais fazer piada de negro, judeu, homossexual, deficiente físico e outras vítimas tradicionais do bullying dos humoristas e dos deformadores de opinião.

Espero que a Justiça faça justiça com os belos casarões da Luciana de Abreu.

Fonte: jornal Correio do Povo

Juremir - Casarões da Luciana

4 pensamentos sobre “O maior inimigo do patrimônio histórico e das nossas belezas naturais é a especulação imobiliária.

  1. Há uma tendência no nosso país de sempre centralizar os erros num número menor de pessoas que trabalham contra a natureza, o desequilíbrio ambiental e a favor da poluição e outras mazelas da nossa cidade, estado ou país. Poupa-se, por exemplo, o pequeno proprietário, o pequeno agricultor e outros que também são responsáveis por tudo que vemos de errado.
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    Vamos a dois exemplos simples, as árvores da nossa cidade e a poluição dos rios que formam o Guaíba.
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    Quanto as árvores é muito simples detectar os problemas, se andarmos por uma rua em que há comércio, veremos que há uma verdadeira descontinuidade entre regiões onde só há residências para zonas em que o comércio ocupa as ruas. Em quase toda a rua que ERA ARBORIZADA e estabeleceram-se empresas comerciais, milagrosamente as árvores que existiam nas calçadas desapareceram, desapareceram e por uma acaso a calçada e o antigo pátio das residências virou estacionamento. Também os pátios dos fundos das casas que eram residenciais foram transformados também estacionamentos e das 10 ou mais árvores que existiam nestes pátios internos talvez uma ou duas tenham sobrado.
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    Esta destruição difusa, porém extremamente importante, ninguém nota e ninguém fala. Contra a destruição do meio ambiente, destruição do patrimônio histórico, feito de forma difusa por proprietários isolados não é assunto para Blogs ou para Portais de protetores disto e daquilo. Ninguém fala das chamadas árvores privadas que são aos poucos cortadas ou arte não replantadas por proprietários individuais. Ninguém fala de pátios gramados e permeáveis as chuvas que são transformados em estacionamentos devidamente calçados. Parece que somente o poder público e as grandes empresas tem a necessidade de preservar este patrimônio.
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    Outro exemplo da transferência de culpa das grandes empresas ou ao patrimônio público se vê toda a vez em que a estiagem acontece na região metropolitana. Se no rio dos Sinos há mortandade de peixes, se procura um só responsável, se procura a indústria que lançou poluente. Ninguém pergunta se as centenas de milhares de casas que existem na bacia do mesmo rio estão fazendo algo extremamente simples e individualmente barato, a manutenção das fossas sanitárias. Sim uma fossa sanitária (e um filtro, mais modernamente), que geralmente são colocadas durante a construção das casas, deve ser limpa a cada ano, pois se isto não for feito ela se transformará numa mera caixa de passagem que não tem a mínima capacidade de remover a poluição doméstica dos esgotos. Um sistema devidamente operado de fossa e filtro pode remover até 80% da carga poluidora.
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    Mas tudo isto não é levado em conta, se por acaso cada um dos proprietários das casas Luciana de Abreu fosse vendida individualmente e nela construída um imóvel em que o antigo proprietário recebesse em área construída, provavelmente já teriam caídas todas as casas, mas como está na mão de uma grande empresa, e a maioria dos manifestantes (muitos proprietários de casas que serão vendidas a especulação imobiliária) não se sentem diretamente responsáveis pelo o que ocorre.
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    Porto Alegre é uma cidade que está perdendo lentamente a sua história arquitetônica, de forma difusa ou algumas vezes de forma concentrada (como no caso em questão), porém devemos preservar o patrimônio de toda a cidade e não só aquele que está nas mãos das grandes empresas.
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  2. Procurei a definição de “Especulação Imobiliária” e o que consegui foi o seguinte:
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    Especulação imobiliária é a compra ou aquisição de bens imóveis com a finalidade de vendê-los ou alugá-los posteriormente, na expectativa de que seu valor de mercado aumente durante o lapso de tempo decorrido.
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    Ou uma definição mais clara de Campos Filho (2001) em “Cidades brasileiras: seu controle ou o caos.” Apud Renato Saboya no site Urbanidades.
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    […] uma forma pela qual os proprietários de terra recebem uma renda transferida dos outros setores produtivos da economia, especialmente através de investimentos públicos na infra-estrutura e serviços urbanos[…].
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    Bem vejamos o caso das casas da Luciana de Abreu não se enquadra nem numa nem noutra definição, e como não encontrei uma boa definição vou lançar mão da definição de Mamata modificando-a um pouco.
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    A definição de Mamata pode ser dada como: Um bom negócio que outro realizou. Assim a definição de especulação imobiliária poderia ser dada por: Uma boa venda de patrimônio imobiliário privado feito por outro que não eu!
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    Ora, porque não dar os nomes corretos as coisas, vários desses distintos senhores e senhoras, ou os pais das jovens senhoritas e mancebos, provavelmente venderam parte de seu patrimônio privado para os “especuladores imobiliários” não interessando se estes tinham algum valor histórico para a cidade, mas como o bom negócio já foi feito, ele não é nada mais nada menos do que um bom negócio do passado.
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    Chamo a atenção que patrimônio histórico não é composto só de belas casas em bairros nobres, existiam na cidade de Porto Alegre, que se diga de passagem era uma cidade pobre, bairros e bairros com casas de madeira que pertenciam as chamadas colônias africanas, estes bairros possuíam algumas casas que foram construídas com cuidado e atenção (conforme podemos ver em fotos históricas da cidade) que foram extintas durante as décadas de 20 até 50. Bairros como o Bonfim e dezenas de outros foram construídos sobre esta verdadeira cidade de Porto Alegre do passado, que poucas pessoas sabem que ele existiu, foram extintas não só fisicamente como da memória de todos.
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    Provavelmente pais e avós dos distintos senhores que aparecem nas fotos foram ativos “especuladores imobiliários” do passado segundo a definição implícita que está no texto. Agora mais grave, vários destes bairros foram simplesmente demolidos em cima do que com todo o prurido ninguém aqui se refere, A PROPRIEDADE PRIVADA.
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    Eu fico verdadeiramente emocionado ao ver toda a ginástica que é feita para não tocar no âmago da questão, a existência da propriedade privada e a garantia constitucional de se dispor livremente da mesma. .
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    Provavelmente a imensa maioria dos que organizam estes eventos de protesto como outros similares da luta contra a Trincheira da Anita ou da preservação das árvores da Gonçalo de Carvalho, são ou foram proprietários de outros imóveis em regiões de menor evidência que foram derrubados ou serão sem a mínima preocupação se eles representam ou não a história da cidade de Porto Alegre.
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    Para estes senhores há uma clara distinção entre o que é propriedade privada, há a deles e há as dos outros. A deles é para se fazer bons negócios, já a dos outros é para fazer mamatas e destruição do patrimônio histórico da Cidade.
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    Temos que levantar as coisas com clareza, ou a prefeitura analisa cada processo de demolição de qualquer casa verificando seus aspectos arquitetônicos e históricos e declarando-os patrimônio da cidade sem direito a remunerações ou contrapartidas do erário público aos proprietários das mesmas, ou simplesmente se passa a lógica do mercado.
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    Cidades como Paris, tem grande parte de seus imóveis simplesmente congelados no tempo. Alguém pode dizer, mas Porto Alegre não tem o mesmo patrimônio histórico do que Paris. Evidentemente, não tem o mesmo patrimônio histórico do que Paris, Londres ou Roma, mas por não termos o mesmo patrimônio não quer dizer que não devemos preservá-lo.
    Se no passado Porto Alegre foi (e talvez ainda seja) uma cidade pobre, o patrimônio histórico que legaremos no futuro é o que nós fomos no passado, pobre ou rico! Não adianta esperar a construção de uma arquitetura rica e impar para que depois pensarmos em preservá-la. Ou se preserva o que se tem ou não se preserva nada.
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    Se esta discussão fosse feita a quarenta anos o aspecto político da validade ou não da propriedade privada seria levado com maior clareza, entretanto em tempos em que falar de ideologia política é quase um palavrão, se procura metáforas e termos indevidamente definidos para levantar restrições a Propriedade Privada, ou seja, criamos mais uma definição de especulação imobiliária, é a construção de edifícios na nossa rua em que para nós não foi feito uma boa oferta, aí não seria especulação imobiliária, seria o exercício da livre iniciativa.
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  3. … E não é que acabaram com tais relíquias!?
    Havia uma polêmica sobre essas; tipo a BANDIDAGEM se instalar – e até mesmo OCUPAREM ESPAÇO SEM UTILIDADE.
    Costumava passar pela via e até admirar. Talvez façam uma baita edificação/daí piorando o transito _ onde pode até MELHORAR DE TÃO RUIM.
    Pelo menos as parecidas na FÉLIX DA CUNHA resistem. Tornando a rua mais atraente.

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