Mais protestos e mais violência em Porto Alegre

Do Jornal do Comércio:

Porto Alegre vive mais um dia de violência

Passeata na Capital, que desta vez ficou restrita ao Centro da cidade, acabou em confronto mais uma vez

Daniel Sanes

O cenário mudou, mas a história não. De diferente na manifestação realizada ontem, em Porto Alegre, só o itinerário escolhido pelos militantes. O final da história foi o mesmo dos demais protestos: enquanto a multidão marchava pacificamente pelas ruas da Capital, não houve problemas. Depois que pequenos grupos entraram em conflito com a Brigada Militar (BM), foi um passo para o início das depredações. Entre contêineres incendiados e lojas saqueadas, a noite de segunda-feira na Capital terminou com uma série de confrontos na Cidade Baixa e no Centro. O saldo de presos bateu um recorde. Segundo a BM, pelo menos 80 pessoas foram detidas. E em um universo menor de manifestantes: dessa vez, cerca de 10 mil enfrentaram a chuva e saíram às ruas – nas anteriores foram 20 mil e 15 mil.

Integrantes da AGAPAN destacando a ecologia no protesto - Foto: Heverton Lacerda

Integrantes da AGAPAN destacando a ecologia no protesto – Foto: Heverton Lacerda

Os ativistas se reuniram no Paço Municipal erguendo bandeiras contra diversos temas: a PEC 37 (que retira do Ministério Público o poder de investigação criminal), a “cura gay” e os gastos com as obras na Copa do Mundo eram apenas alguns deles. Havia, ainda, gente defendendo os direitos dos animais e dos índios, e até exigindo que o governo revisse a decisão de trazer médicos do exterior. Os que defendem valores mais justos para as passagens do transporte público – demanda que impulsionou os protestos -, também se fizeram presentes.

Fim da tarde, a concentração - Foto: Edi Fonseca/AGAPAN

Fim da tarde, a concentração – Foto: Edi Fonseca/AGAPAN

Não fossem os cartazes, a concentração em frente ao Paço poderia se confundida com uma grande festa ao ar livre. Enquanto as pessoas iam chegando e se aglomerando nas proximidades do Mercado Público, ambulantes aproveitavam para fazer um dinheirinho extra, vendendo churrasquinho, bebidas, capas de chuva e bandeiras do Brasil. Diante da prefeitura, um batalhão da BM permanecia impassível diante da multidão.

Foto: Edi Fonseca/AGAPAN

Foto: Edi Fonseca/AGAPAN

Por volta das 18h30min, a marcha partiu pela rua Júlio de Castilhos até a avenida Mauá, em um percurso diferente dos anteriores. Os ativistas seguiram na direção da Usina do Gasômetro, sempre de forma pacífica e sem tumultos. Quando subiram a avenida Loureiro da Silva, alguns ficaram em dúvida sobre qual o rumo que o grupo tomaria. A expectativa de alguns era de que se retomasse parte do trajeto seguido nas demais passeatas, indo pela avenida João Pessoa até a Ipiranga. Mas a marcha decidiu tomar o sentido contrário, em direção ao Centro, entrando na avenida Borges de Medeiros.

Na Esquina Democrática, os militantes pararam. O cheiro de vinagre (usado para atenuar os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela BM) tornou-se forte. Pode-se dizer que nesse momento, por volta das 20h30min, a passeata terminou. Um pequeno grupo entrou em atrito com a BM, que desde o meio da tarde fazia um cerco às ruas que desembocam no Palácio Piratini. O gás se espalhou rapidamente, provocando pânico e um corre-corre no viaduto da Borges.

“Sem violência! Sem violência!”, gritavam os manifestantes. Mas já era tarde. O regimento montado da Brigada se espalhava por diversas ruas transversais, dispersando a multidão. Com a passeata “desmanchada”, só ficaram na rua os depredadores e aqueles que não sabiam como voltar para casa.

Segunda-feira foi de clima apreensivo no Centro

Quando a Brigada Militar fechou as ruas no entorno do Palácio Piratini, ontem, no meio da tarde, a tensão tomou conta dos moradores do Centro. Afinal, o prédio do Executivo estadual já havia sido alvejado por vândalos, mas nunca tinha sido o destino final das manifestações até então.

Devido aos atos de depredação registrados nas mobilizações anteriores, vários estabelecimentos comerciais resolveram antecipar o encerramento das atividades. Depois das 17h, era difícil encontrar lojas e bares abertos na região próxima ao possível trajeto da marcha. Temendo serem alvos de vandalismo, órgãos públicos municipais, estaduais e federais tiveram expediente mais curto.

A impressão é de que o horário de pico do trânsito foi antecipado em uma hora. A pressa de muitas pessoas em garantir condução de volta para casa denotava preocupação com a provável falta de ônibus após o início da passeata, embora o diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, tenha garantido que todas as linhas seguiriam funcionando normalmente, com pequenas alterações no trajeto, se fosse necessário.

No final da noite, pessoas que estavam na manifestação tentavam tomar ônibus ou táxi, mas sem sucesso. A cavalaria da BM fechou algumas das principais ruas do Centro e da Cidade Baixa, limitando as alternativas para quem queria voltar para casa. O jeito foi seguir a pé, tomando cuidado a cada esquina para não dar de cara com o “choque”.

Fonte: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=127648

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